Primeiro, ele participou da oficina da Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS), no município fluminense de Casimiro de Abreu. Depois, esteve presente em vários eventos paralelos realizados durante a Rio+20. Por fim, visitou a Fiocruz, mais especificamente as instalações do Grupo Direitos Humanos e Saúde Helena Besserman (DIHS), da ENSP, um dos pontos de contato na instituição para seus projetos acadêmicos. Considerado um dos principais cientistas sociais da atualidade, Boaventura de Sousa Santos, diretor do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, em Portugal, há alguns anos incluiu o Brasil em seu roteiro de pesquisa e de parcerias institucionais. Atualmente, também se empenha na coordenação do projeto Alice, financiado pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC), com o objetivo de repensar e renovar o conhecimento sociocientífico à luz das epistemologias do Sul.
Boaventura foi a estrela de um dos eventos mais concorridos já realizados na ENSP, em julho de 2010: o V Seminário Internacional Direito e Saúde e IX Seminário Nacional Direito e Saúde. O evento marcou a assinatura do convênio entre a Fiocruz e o CES. O DIHS atua como intermediador do acordo, que envolve a elaboração de um programa de doutorado com dupla titulação entre as instituições e a realização de atividades de cooperação internacional sobre sete eixos temáticos. Os coordenadores da parceria são Maria Helena Barros (DIHS/ENSP) e João Arriscado Nunes (CES). “Há dois anos trabalhamos com nesse projeto, mas só agora Boaventura teve a oportunidade de conhecer as instalações do DIHS”, comentou Maria Helena, mostrando as fotos feitas com seu Ipad de um Boaventura muito à vontade nas instalações do DIHS.
Para a pesquisadora, um dos aspectos mais importantes dessa parceria é a integração entre unidades da Fundação. “Há a possibilidade de incorporarmos diferentes grupos de pesquisa, mesmo que englobem uma única questão. Essa forma de trabalho nos dá um olhar mais profundo, complexo e transversal sobre a relação entre saúde e direito. A parceria também será importante em relação ao trabalho que estabelecemos com países africanos de língua portuguesa”, afirmou. O programa interinstitucional é inovador e reunirá questões de saúde global - especialmente sob o ponto de vista das desigualdades - com as do direito à saúde. Também articulará a formação de pessoas com competência em pesquisa e intervenção para atuarem na sociedade e em organizações internacionais nos três eixos norteadores do doutorado: direitos humanos e saúde; justiça cognitiva; e políticas da vida. O edital deverá ser divulgado ainda este ano.
Maria Helena Barros foi a cicerone de Boaventura durante o mês de junho, período em que esteve no Brasil. Ela também participou da quarta oficina da Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS), que ocorreu nos dias 13 e 14 de junho, em Casimiro de Abreu. Também participaram vários representantes de movimentos sociais, além de pesquisadores da ENSP/Fiocruz, como Eduardo Stotz e Carla Moura (Densp/ENSP), e Mayalu Mattos, coordenadora da Assessoria de Cooperação Social da ENSP. “Foram dois dias de trocas de experiências muito ricas. Tivemos representantes de movimentos sociais ligados à população negra, luta contra o uso de agrotóxicos, gênero, entre outros”, comentou Mayalu.
A UPMS nasceu de uma proposta feita por Boaventura, no III Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre, em 2003. O objetivo é proporcionar a autoeducação dos ativistas e dirigentes de movimentos sociais, bem como dos cientistas sociais, dos investigadores e artistas empenhados na transformação social progressista. A proposta foi publicada pela primeira vez em forma de texto em Terraviva (Ibase), no dia 14 de janeiro daquele mesmo ano. No texto, Boaventura apresenta os ideais, objetivos, metodologias e organização da UPMS, que foram coletivamente produzidos por diversas pessoas ligadas a movimentos sociais e educação popular.
Trata-se de uma rede global de saberes e pretende contribuir para que seja alcançada uma justiça social global por meio do trabalho de uma justiça cognitiva global. O objetivo geral da UPMS é colaborar para que o conhecimento da globalização alternativa seja tão global quanto ela e que, nesse processo, as ações transformadoras sejam mais esclarecidas aos seus protagonistas, tornando-os mais autônomos e reflexivos. Além de poder fazer convergir e facilitar a troca de saberes dos movimentos sociais no âmbito local, a UPMS tem o desafio de realizar o encontro dos movimentos em escala regional e mundial. O quarto encontro ocorreu em Casimiro de Abreu, no Rio.
Na entrevista que deu ao Informe ENSP em 2010, Boaventura falou sobre a questão ambiental, um dos temas mais presentes em discussões de movimentos sociais brasileiros. Segundo ele, “a questão ambiental hoje é fundamental em relação aos novos modelos de desenvolvimento. Esse tema, inclusive, faz parte de uma discussão que estamos travando aqui nas Américas, Europa, África e Ásia sobre como essa questão deve ser entendida. Ela não é um luxo dos países desenvolvidos, nem deve ser uma obrigação dos países subdesenvolvidos. No entanto, há outra lógica de sustentabilidade em pauta uma vez que se reflete na vida da sociedade e na saúde das pessoas. Vivemos, atualmente, uma crise financeira, energética, ambiental, e novas concessões estão surgindo em razão da centralidade desse tema, sobretudo dos movimentos indígenas, que estão trazendo a questão ambiental para a agenda política de vários países”. Foi com essa visão que Boaventura participou de várias mesas e eventos realizados na Cúpula dos Povos, durante a Rio+20.
Boaventura tem desdobrado sua linha de pesquisa em outro projeto. Com um título comprido, mas revelador (Alice - espelhos estranhos, lições imprevistas: definindo para a Europa um novo modo de partilhar as experiências do mundo), o projeto que Boaventura vem desenvolvendo na Europa parte da ideia de que a experiência social em todo o mundo é muito mais ampla e variada do que o que a tradição científica ou filosófica ocidental conhece ou considera importante. Nesse sentido, recusando as linhas abissais definidas pela modernidade ocidental, propõe-se a investigação das alternativas que cabem no horizonte das possibilidades concretas. O projeto Alice é um momento importante no percurso científico e profissional de Boaventura. Ele conta com uma equipe multidisciplinar de 14 cientistas de várias partes do mundo.
Assista a entrevista exclusiva que Boaventura de Sousa Santos deu ao Canal Saúde
O programa Sala de Convidados Entrevista, do Canal Saúde, traz, com exclusividade, um bate papo com o sociólogo Boaventura de Sousa Santos. Ele descreve sua trajetória inicial no Brasil, comenta os movimentos sociais no país e explica como funciona a Universidade Popular dos Movimentos Sociais - UPMS criada por ele em 2003, durante o Fórum Mundial Social, em Porto Alegre/RS. O programa vai ao ar nesta 5ªf, 05/07, às 11h, pelo Canal Saúde. Na sexta-feira, a entrevista estará disponível na internet no site do Canal Saúde, em http://www.canal.fiocruz.br/.
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