Um estudo epidemiológico buscando explorar a distribuição de efeitos
reprodutivos na Região Sudeste do Brasil em decorrência da infecção por dengue durante a
gestação, no período compreendido entre 2001 e 2005, foi o tema da dissertação
de mestrado em Saúde Pública e Meio Ambiente da ENSP Os efeitos da infecção
pelo vírus da dengue na gestação, de Anne Karin Madureira da Mota,
apresentada em abril de 2012. O trabalho
resultou em um artigo em parceria com o pesquisador da Escola Sergio Koifman,
com o doutorando da ENSP Adalberto Luiz Miranda Filho e com a representante da
Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro Valéria Saraceni.
Entre os resultados, Anne Karin ressalta que 'a ocorrência da infecção durante a
gravidez pode impactar negativamente sua evolução, com repercussões para a
mortalidade materna'.
O trabalho envolveu 154 municípios que no censo do ano 2000 apresentaram
população superior a 80 mil habitantes. As variáveis de estudo consistiram nas
taxas de incidência de dengue em mulheres de 15 a 39 anos e nas taxas de
mortalidade materna, fetal, perinatal, neonatal, neonatal precoce e infantil.
Segundo os autores, tais dados foram obtidos por meio de consulta ao Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM), ao Sistema de Informações sobre Nascidos
Vivos (Sinasc) e ao Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan). Já
os dados populacionais foram obtidos mediante estimativas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Após a análise dos
dados nos cinco anos compreendidos no estudo, verificou-se que ocorreram 146.332
casos de dengue em mulheres de 15 a 39 anos nesses municípios, sendo que os
casos notificados de doença aumentaram 246% entre 2001 e 2002, período em que o
Brasil foi marcado por uma das maiores epidemias de dengue. Após esse ano, os
casos da doença foram consideravelmente reduzidos, passando para 3.782 em 2005,
na faixa etária em questão.
Os autores revelam que "o trabalho encontrou uma forte correlação positiva
entre as medianas das taxas de incidência de dengue em mulheres de 15 a 39 anos
e as medianas das taxas de mortalidade materna em municípios da Região Sudeste.
Tal resultado indica que, no nível ecológico, o aumento de ambas as variáveis
apresenta a mesma direcionalidade nos municípios correspondentes". Explicam,
ainda, que por se tratar de estudo ecológico, tais achados podem não ser
observados no nível individual.
No entanto, quando a unidade de análise é o indivíduo, a ocorrência de óbito
materno tem sido influenciada por meio da infecção pelo vírus da dengue durante
a gestação, sendo associado à dengue grave. "A dengue durante a gestação também
tem sido apontada como possível causa de óbito fetal/perinatal, principalmente
na vigência de doença grave e/ou da ocorrência da infecção no primeiro trimestre
da gestação. A patogênese que leva ao óbito fetal/perinatal é desconhecida",
afirmam. Entretanto, os fatores relacionados com a dificuldade de acesso, a
baixa qualidade do atendimento e a falta de ações de capacitação de
profissionais de saúde voltadas para os riscos específicos aos quais as
gestantes estão expostas devem ser consideradas como importantes definidores do
padrão da mortalidade materna nos municípios.
Levando em conta as ressalvas apresentadas na interpretação dos resultados, é
necessário que as autoridades de saúde ampliem o monitoramento das gestantes
como grupo de risco de óbito, sobretudo nas epidemias de dengue. "Os resultados
observados nessa investigação reforçam o conceito vigente de que a infecção pelo
vírus da dengue durante a gestação pode acarretar riscos elevados de óbito
materno, sendo necessário implementar medidas de vigilância epidemiológicas
pertinentes na presença daquela infecção no subgrupo populacional considerado",
concluem os autores.
O artigo foi publicado na revista Cadernos de
Saúde Pública da ENSP, volume
28, número 6, de junho de 2012.
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