sexta-feira, 15 de abril de 2011

"ACESSO ABERTO: BENEFÍCIOS PARA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA" - ENSP

Filipe Leonel
O movimento de acesso aberto à informação científica do Brasil e os desafios que ele coloca para a comunicação científica foram os temas abordados pelos palestrantes Fernando César Lima Leite (UNB), Bianca Amaro (Ibict), Abel Packer (Scielo) e Elisabeth Adriana Dudziak (USP) na segunda mesa, do primeiro dia, do Seminário Internacional de Acesso Livre ao Conhecimento, realizado na segunda-feira (11/4) na ENSP. Os expositores apresentaram os atributos dos repositórios institucionais, os benefícios gerados para a instituição e o pesquisador, além da presença e impacto dos periódicos nacionais na comunicação científica.

Primeiro a se apresentar, o professor da Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília, Fernando César Lima Leite, disse ser importante contextualizar o surgimento dos repositórios no bojo do movimento do acesso aberto. De acordo com ele, a ciência é extremamente dependente dos processos de comunicação, e o acesso aberto à informação científica é uma forma de "maximizar o impacto dos resultados da pesquisa realizada por meio da maximização do seu acesso e uso."
Em seguida, questionou a lógica do modelo tradicional de publicação, no qual as atividades de pesquisa são, na maioria das vezes, financiadas por recursos públicos. Ao mesmo tempo, ainda de acordo com Fernando, o pesquisador quer publicar nos melhores periódicos, do qual fazem parte grandes editores comerciais. "Esse processo restringe o acesso das instituições de ensino e pesquisa às publicações. A resposta da comunidade científica veio com a soma da velha tradição dos pesquisadores em publicar seus resultados sem qualquer remuneração, em prol da ciência e difusão do conhecimento, com o surgimento da internet para tornar possível o aparecimento de um bem público sem precedentes. "O acesso aberto é a disponibilização livre, gratuita e irrestrita da informação científica na internet, de modo que qualquer usuário possa ler, fazer download, distribuir ou referenciar o texto completo", definiu.

"Repositório só traz benefícios para a instituição", afirma pesquisadora do Ibict

Além de revelar que o acesso aberto à informação científica é encaminhado pela via dourada no Brasil, no qual o acesso é aberto na própria publicação do periódico científico eletrônico, Fernando Leite fez questão de esclarecer algumas questões relacionadas aos repositórios institucionais (RI). "Os RI não concorrem com periódicos, apenas complementam e potencializam algumas de suas funções. Também não publicam, apenas tornam os conteúdos públicos e acessíveis e, ao contrário do que pensam, reforçam o registro da autoria e, consequentemente, facilitam a descoberta de plágios."
A segunda exposição, realizada por Bianca Amaro, do Ibict, focalizou a implementação dos repositórios institucionais no território nacional. A palestrante citou os editais lançados pelo instituto para a criação de repositórios de acesso aberto e demonstrou a boa distribuição geográfica no país das instituições contempladas. "Oferecemos treinamento sobre o uso do software Dspace e aspectos conceituais relacionados ao acesso livre, as concepções de repositórios institucionais e, assim, em outubro do ano passado eles 'nasceram'", contou.

Indexação de periódicos faz Brasil passar de 17º para 13º produtor mundial em ciência no mundo

Bianca destacou a necessidade de toda a instituição se envolver para o desenvolvimento do repositório, com atuação conjunta de bibliotecários, pesquisadores, profissionais de comunicação e, principalmente, do diretor da instituição. "Todos devem estar cientes de que a construção do repositório só traz benefícios para a instituição. Não há nada de negativo. É possível controlar a produção científica, dar visibilidade e qualidade ao seu trabalho e promover uma boa gestão dos recursos. O cientista, por exemplo, será mais conhecido internacionalmente, pois os repositórios têm ligação com o mundo todo. Isso sem mencionar o aumento no número de citações e as chances de maior financiamento de suas pesquisas. Estamos apenas no começo, mas o mundo verá como o Brasil possui um desenvolvimento científico importante!"
Na terceira apresentação da mesa, Abel Packer, coordenador operacional do SciELO, revelou que o programa possui 13 anos de operação ininterrupta na 'via dourada'. Ao iniciar sua palestra, fez uma comparação sobre a presença e impacto dos periódicos nacionais na comunicação da ciência no Brasil, Índia e África do Sul na Web of Science. "O Brasil teve um aumento extraordinário na indexação internacional de periódicos, se comparado aos outros dois países emergentes, com um volume de publicação indexada de 36%, enquanto a Índia obteve 17% e a África do Sul 19%. Isso caracteriza uma situação curiosa: o aumento da indexação dos periódicos brasileiros fez com que o país passasse de 17º para 13º produtor mundial em ciência no mundo. O que é muito bom. Em compensação, essa entrada ocasionou uma baixa na média de citações dos artigos brasileiros."
Outro caso mencionado pelo palestrante diz respeito à publicação de cientistas brasileiros em periódicos internacionais. De acordo com Abel, quando cientistas brasileiros de alto nível publicam em periódicos internacionais, recebem quatro vezes mais citações do que em artigos de qualidade similar em periódicos brasileiros e em inglês. "Esse é um dos problemas que temos na comunicação via periódicos nacionais. Eu, como autor, quero publicar em periódico de maior impacto. Já como editor, quero que meu periódico seja indexado em todos os índices de maior representação. A avaliação da ciência pelo Qualis hoje no Brasil está fundada nessa estrutura."

Política Institucional de Informação da USP prevê implantação de um repositório institucional.

Abel Packer ainda registrou outro aspecto considerado crítico na comunicação científica brasileira: o idioma. "A barreira do idioma dificulta, ou melhor, quase impossibilita a inserção de muitas das nossas pesquisas no fluxo mundial de comunicação científica a partir do momento em que o inglês é a língua mundial. A proposta da SciELO para os editores é a publicação simultânea em inglês e português para artigos de interesse internacional. Mas o grande problema é que, internacionalmente, os artigos em português são citados 50% menos que os artigos em inglês. Deve estar claro para toda a comunidade que o acesso à informação e conhecimento é um determinante social da saúde."

No final, a diretora da Divisão de Gestão de Desenvolvimento e Inovação da USP, Elisabeth Adriana Dudziak, apresentou a experiência da sua instituição em acesso aberto ao conhecimento. O projeto de política institucional da USP, segundo ela, busca discutir e propor uma Política Institucional de Informação, definindo parâmetros para melhor adequação dos direitos autorais e a questão do acesso aberto à sua produção intelectual (técnico-científica, artística e didática). "Nossa política também prevê a implantação de um repositório institucional da USP em espaço de referência sobre a publicação de acesso aberto, que oriente e auxilie o corpo docente e discente da USP nas questões de direitos autorais, editoras e modelos editorais de compartilhamento e/ou embargo, atualizações sobre o movimento internacional do acesso aberto e formas de aumentar a visibilidade da produção científica."

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