A conclusão apresentada pelas expositoras Lenice da Costa Reis (ENSP) e Elizabeth Meloni Vieira (USP) no painel Qualidade e segurança da atenção ao parto: desafios para a 5ª Meta do Milênio, realizado no 10º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, é a de que o Brasil, apesar de todos os esforços no campo da saúde materna, não chegará aos índices estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto à mortalidade materna. "Atualmente, o Brasil sofre 68 óbitos de mulheres em cada 100 mil nascidos vivos, e esse número deveria ser reduzido, até 2015, para 35/100 mil, segundo os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM)", explicou Lenice.
A pesquisadora da ENSP ressaltou que, entre 2009 e 2011, quase não houve redução nos índices de mortalidade materna no país, apesar de o Brasil contar com diversas tecnologias para evitar esse problema. “Sabemos que as principais causas para essa mortalidade são os transtornos hipertensivos, as infecções puerperais e as hemorragias. Todos são problemas ligados à qualidade da atenção à mulher, desde seu pré-natal até o parto e pós-parto”, disse. Segundo Lenice, a redução da mortalidade materna não se restringe apenas ao desenvolvimento social. Ela tem de ser vista como uma questão de direitos humanos e estar relacionada à cidadania.
Lenice apresentou ainda uma linha de pesquisa voltada para a mortalidade materna e morbidade materna near miss, relacionada à qualidade da assistência ao parto prestada nas maternidades. O trabalho faz uma revisão sistemática dos fatores de risco e métodos utilizados para a identificação desse problema; tem como objetivo geral levantar e sintetizar as evidências disponíveis acerca dos fatores de risco para a morte materna, morbidade materna near miss e eventos adversos relacionados à qualidade da atenção ao parto, bem como dos métodos para identificação da morbidade materna severa nas maternidades.
Entre os problemas mais comuns no parto, conforme levantado na pesquisa, estão: falha ao reconhecer/responder de modo adequado ao sofrimento fetal pré-parto; incapacidade de realizar cesarianas em momento oportuno; uso inadequado da ocitocina, levando à hiperestimulação uterina; uso inadequado de fórceps ou subestimação da perda sanguínea nacirurgia. “Temos de desenvolver mais tecnologias de apoio com vistas a melhorar a qualidade e a segurança do apoio ao paciente, buscando minimizar esse grave problema”, afirmou.
Já a pesquisadora da USP Elizabeth Meloni Vieira concentrou sua exposição nos índices e problemas relacionados à mortalidade materna, afirmando que, apesar de ser uma tragédia e um grave problema de saúde pública, cerca de 93% dos casos poderiam ser evitados no país. “Entretanto, se não investigarmos as causas dessas mortalidades, não poderemos entender as falhas que existem no sistema de saúde”, disse.
Segundo Elizabeth, apesar de o Brasil melhorar a qualidade do atendimento pré-natal, isso não significou redução da mortalidade, pois os dados existentes são imprecisos. “As causas das mortes acontecem entre o terceiro trimestre de gravidez e a primeira semana do pós-parto. Porém, muitas vezes, não podemos saber realmente a realidade, porque há subinformação na declaração de óbito da mulher ou de enterros em cemitérios clandestinos, o que faz com que não tenhamos as informações corretas sobre o ocorrido”, ressaltou.
A pesquisadora da USP destacou que quanto melhor o pré-natal, maiores são as possibilidades de se evitar a mortalidade materna. É necessário que os gestores e profissionais de saúde invistam mais nessa política a fim de entenderem o que está acontecendo realmente no país. O painel foi realizado na sexta-feira, 16 de novembro de 2012.
Fonte: http://www.ensp.fiocruz.br
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